domingo, 24 de abril de 2011

Pilar de Saramago - Pilar fala do escritor e do homem da crise e da Madeira. E ensina a ler Saramago



Entrevistada por Sandra Cardoso



Saramago, a Madeira e as Canárias. A crise económica portuguesa, que afinal "resulta de uma crise moral do Mundo". O papel do cidadão. O DIÁRIO à conversa com a mulher do Nobel da Literatura português, menos de um ano depois da sua morte.
A mulher que tornou José Saramago "mais acessível, mais aberto, capaz de derramar os sentimentos e de abandonar a sua habitual atitude de defesa". A descrição é de Violante Matos, a filha do escritor, sobre Pilar del Rio, a jornalista espanhola que partilhou com o escritor os últimos 24 anos e quatro dias de vida. Foi sua companheira, tradutora da obra para castelhano, secretária e militante nas convicções. Sempre sem deixar de parte o jornalismo, mesmo quando refugiados na inóspita ilha espanhola de Lanzarote. Nem os mais de 20 anos de idade que os separavam foi impeditivo para um história de amor imortalizada no documentário José & Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes.
(...)
Activistas da liberdade?


Sim, mas não como entendem os neoliberais Da igualdade e da fraternidade, porque uma sem a outra são coxas. São valores fundamentais, mas falar deles nos dias de hoje é invulgar e pode parecer patético. Os neoliberais falam muito de liberdade, mas da liberdade deles próprios não a de quem trabalha para eles, não da liberdade de outros povos, de outras zonas do Mundo onde há escravos, porque isso traz-lhes benefícios e graças a isso podem viver uma vida esplêndida. Não se pode falar da liberdade, sem igualdade e fraternidade. Não quer dizer que tenhamos que ser todos os mesmos. Não podemos ser todos altos, loiros, magros e multimilionários, mas podemos ser iguais, uns com mais, outros com menos, uns altos e outros baixos, uns mais inteligentes que outros, uns mais cultos que outros, mas todos iguais.


Ninguém mais que ninguém. A não ser os cidadãos mais dos que os Governos, porque os cidadãos depositam a representação nos eleitos para que exerçam o acto de governar.

"Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos"

A luta por esses valores é um dos objectivos da Fundação José Saramago, a que preside?


Está nos nossos estatutos. Os valores cívicos e a Declaração Universal dos Direitos do Homem, não a declaração para ser dita em dias solenes, mas para levá-la à prática e de forma muito concreta, é para isso que começamos a caminhar. Será uma Fundação de discussão e de debate, de ideias, de valores, de actividade cultural, mas também de um posicionamento muito claro e nítido.

(...)


Uma entrevista a não perder no: DIÁRIO

Sem comentários: