Num século de vida, Oliveira gerou muitos passados e fixou em imagens um certo Porto do Século XX.
Já não há comboios na Ponte Maria Pia. Já não há espanto no olhar dos miúdos da Ribeira. Já não há fumo a sair das chaminés do casario. Já não há barcaças desengonçadas na Afurada. Já não há faina nas margens do Douro. Já não há muito passado escondido nas janelas das casas postas em cascata sobre a última colina da cidade antes da água. Nenhuma memória é anterior ao olhar. Nenhuma recordação do Porto vive sem o olhar deixado por Manoel de Oliveira.
Nenhum desabafo é tão profundo como profunda é a tristeza contida na mudez filmada a preto e branco dos homens da faina fluvial. Sem serem senhores do rio, eram escravos do que o Douro gerava.
Sem comentários:
Enviar um comentário