sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Olhar o NATAL III

Esta época festiva tem ainda a particularidade de desenhar um tempo de paradoxos, pois numa face evidencia os excessos dos gastos familiares e na outra desmascara as graves carências, onde só existe as emoções e as sensações da época.
Os madeirenses, neste Natal, apesar das dificuldades económicas, vão construir o seu presépio, com orgulho e animação bastante, transmitindo os hábitos tradicionais às novas gerações. Mas, na hora de colocar o sapatinho na lareira, ou no momento de pousar a ceia sobre a mesa, ou nos instantes em que deveriam colocar as guloseimas nos bolsos dos seus filhos, as lágrimas silenciosas vão saltar do fundo da íris, cortando a alma de tantos pais e mães, porque os problemas financeiros entraram no seio das famílias de tal forma que não lhes dá a possibilidade de satisfazerem os desejos nem de semearem a felicidade plena dentro de casa.

O custo de vida já não permite as despesas essenciais, quanto mais as extraordinárias. Os ordenados não acompanham o poder de compra, as pensões de reforma não são suficientes, os medicamentos continuam caríssimos, a prestação da casa sobe sem parar, os livros escolares levaram uma grande fatia do que restava, o passe escolar custa muito dinheiro.
Algumas das famílias passam esta quadra festiva em casa dos pais, porque já entregaram a casa ao banco. Outras, o carro foi levado pelas dívidas, outras famílias perderam o seus empregos, arrastados pelo esbanjamento e pelo desperdício de políticas erradas, bem como pelo crescimento apressado da Madeira. Hoje, limitam-se a percorrer a nova estrada ou o túnel e alguns têm a possibilidade de escolher entre três caminhos para chegar a casa, quando antes tinha um ou nenhum. Mas, e o resto? Onde ficam as pessoas neste modelo de desenvolvimento imposto? Quantas famílias vão passar um Natal repleto de angústia, tristeza e, em alguns casos, inundado de desespero?

Apesar de tudo, vamo-nos deixar envolver pelo ambiente natalício e pelo sorriso das crianças. A hora é de festa e de expectativa por um futuro melhor. As luzes de mil cores acendem o ânimo dos madeirenses e incitam-nos a atravessar os dias de rosto erguido em direcção aos amanhãs inquietos, mas a transbordar de esperança.
O Pai Natal traz uma mensagem diferente, uma mensagem que fala na coragem de mudar. E ao mesmo tempo que abre as cartas imaginárias, enviadas de todo o mundo pelos sonhos de criança, compõe para os madeirenses uns cânticos que ensinam a ler, compasso a compasso, as partituras da ousadia de ser livre.


1 comentário:

Cadinho RoCo disse...

Esta ousadia em nos lançar à busca da liberdade é que nos impulsiona para as realizações que esperam por nós. Com este espírito desejo um feliz 2009 assinalado por nossa força em fazer do nosso agir um mundo melhor para todos.
Cadinho RoCo