domingo, 5 de dezembro de 2010

Em Foco: Férias, prendas e convívio - REPORTAGEM NA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA GONÇALVES ZARCO

O que pensam os mais novos do Natal, que valores lhes são passados, como caracterizam esta época e em que lugar está a vertente religiosa? A MAIS falou com seis jovens da Escola Gonçalves Zarco e descobriu o que sentem e no que reflectem os adultos de amanhã.
O convívio familiar, a comida especial da época, as prendas e uns dias de férias são atractivos indiscutíveis para os mais novos na época de Natal. A MAIS conversou com seis alunos da Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco a fim de conhecer o que mais os agrada na quadra natalícia, os desejos e as expectativas para a noite de Natal. Apesar de as prendas ocuparem o topo das preferências, há quem não deixe de focar o prazer de estar em família e as preocupações face ao panorama actual e que até os fizeram mais comedidos na hora de pensar nos presentes.
"O Natal para mim é estar com a família, todos juntos, jantar e ter uma comida especial", confessou André Dias, de 10 anos, referindo-se "à carne vinho e alhos da avó". Do outro lado, a parte religiosa não o atrai. "Eu não gosto muito de ir à missa, só vou porque eles querem", apontou. Logo no primeiro dia de Dezembro, a família faz questão de enfeitar já a árvore de Natal. André gosta de participar nessa tarefa e até, quanto aos presentes, os pais é que costumam perguntar o que quer. "Vou receber uma bicicleta BTT", afirmou.
André Dias está consciente da situação actual do país. "Os portugueses estão numa fase muito difícil para a economia", concretizou, referindo que até pensou nesses problemas na altura de escolher um presente. "Mas não era muito caro", continuou, acrescentando que as maiores preocupações quanto às finanças residem na mãe. Se pudesse pedir um desejo em particular para a família, André não hesitaria em pedir "o Euromilhões".
A importância do convívio familiar Para Sara Freitas, 11 anos, aluna do 6º ano, a época natalícia define-se em "muita coisa". O dia de Natal, passado em casa da avó, na companhia da família, é o momento alto. "A minha avó faz a ceia de Natal, brincamos muito, até com os adultos, e às vezes pregamos umas partidas", contou, timidamente.
Esta altura do ano resume-se mais ao convívio na casa de Sara, onde se cruzam as conversas entre familiares. "Conviver é o que mais faz a família", confessou, acrescentando que a parte religiosa passa um pouco ao lado. "A minha mãe é religiosa, mas não gosta muito de ir à missa", contou, acrescentando também que o facto de ter um bebé lá em casa faz com que essa vertente se afaste cada vez mais, devido à falta de disponibilidade.
Ciente das dificuldades actuais, a jovem disse à MAIS que não foi " muito exigente" na hora de pedir. Comedida, Sara pediu roupa, até porque constitui o pedido de sempre, o que mais gosta.
Também para André, aluno do 8º ano, 14 anos, o Natal é para ser passado em família, de preferência a brincar, com bicicletas à mistura, jogos de futebol e muito convívio. No dia 25 de Dezembro, faz questão de ajudar o pai a preparar o almoço de Natal, sempre mais requintado que todos os outros.
Tal como os outros colegas, a parte religiosa do Natal não está no topo do que é mais realçado nesta quadra. "Os meus pais não falam muito nisso", apontou. O Natal resume-se, assim, ao encontro da família, férias e a prendas. "Este ano pedi uma mota, daquelas pequenitas", descreveu, confessando que ainda não é garantido que o desejo se torne realidade. "Eles disseram que iam ver", continuou, sublinhando que as boas notas tiradas neste primeiro período podem perfeitamente contribuir para um bom desfecho.
Situação financeira preocupa O Natal de Cláudia Gomes, 14 anos, aluna do 9º ano, é um pouco diferente. Com uma vertente religiosa mais presente, contou que é a avó que costuma focar mais essa parte. "Eu até gosto, não tem nada de mal", defendeu, contando até que, em criança, acreditava no Pai Natal, até ao dia quem que viu o pai "a guardar os presentes num armário".
Sem irmãos, no dia 25 de Dezembro, o dia é passado com toda a família. "Nós reunimo-nos todos na minha casa e, quando chega à meia-noite, vamos à Missa do Galo", descreveu, não escondendo que os presentes são a parte preferida das festividades. Este ano, Cláudia pediu um Iphone 4, mas ainda não há indícios de que o irá receber.
Se, nesta altura, pudesse pedir um desejo universal, Cláudia Gomes pediria que a situação economia do país melhorasse. "Se o país não ficar melhor, nós não evoluímos mais", salientou, acrescentando que, apesar da tenra idade, tem consciência de que em causa está o "desenvolvimento" do país.
O futuro também é algo que faz pensar Catarina Mendes, aluna do 9º ano, à beira do 10º ano e de escolher um rumo profissional. Se pudesse mudar alguma coisa no mundo actual, acabaria com a tão badalada crise e com a pobreza. Como tal não é possível, no passado fim-de-semana contribuiu para uma causa nobre e juntou-se aos muitos voluntários da Cáritas, no âmbito da campanha de angariação de alimentos. A experiência foi "interessante" e deu para tirar algumas conclusões. "Algumas pessoas ajudam, mas outras ignoram porque simplesmente não precisam", disse, frisando que muitas delas pensam por si e não também nos que as rodeiam.
Em relação ao Natal em si, é sinónimo de convívio em casa dos avós. "Nós divertimo-nos e só abrimos as prendas depois do almoço", sublinhou, referindo que se trata essencialmente de um reencontro familiar. "É uma época especial porque também acabamos o primeiro período, entramos em férias e depois vem o Natal e as prendas", enumerou, apontando que é obrigatória, todos os anos, a passagem por um parque de diversões e uma ida ao Funchal para ver a iluminação. A Missa do Galo também costuma fazer parte do programa, mas "mais pelo convívio".
"Acho que nunca fui 'à missa na minha vida". De rosto fechado, André Camacho, 15 anos, aluno do 7º ano, contou que costuma passar o Natal com a avó e que nunca pensou na parte não profana da festa do Natal. Em relação às prendas, pediu apenas "um telecomandado", mas não sabe se o vai receber. Por "ver o telejornal", sabe o que o rodeia, o que se passa num mundo mergulhado numa depressão profunda. "Eu pedi menos prendas por causa da miséria, o país está pobre", rematou.

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