quarta-feira, 10 de outubro de 2007

10 de Outubro - Dia Europeu contra a Pena de Morte

"A Comissão Europeia adoptou o projecto de uma declaração supra-institucional que estabelece o Dia Europeu contra a Pena de Morte a ser celebrado a 10 de Outubro, todos os anos" (in: Jornal de Notícias).

Quando ouço debaterem a questão da pena de morte, ressalta-me, de imediato, à memória o romance de Victor Hugo O Último Dia de um Condenado que lera no meu primeiro ano da Universidade, na UCP, aconselhado pelo meu excelente professor de Literatura, Dr. Silva Pereira.
Até à leitura desta magnífica obra, defendia, embora com imensas dúvidas, a condenação à pena de morte, mas depois de O Último Dia de um Condenado alterei completamente a minha ideia, extingui as minhas hesitações.
Aprendi com a voz daquele homem condenado à pena capital que este tipo de sentença é cruel, imoral, ineficaz, injusto e não tem qualquer sentido humano.
Alguns excertos:

"Condenado à morte!
Já vão cinco semanas que convivo com tal pensamento, sempre só com ele, sempre petrificado pela sua presença, sempre encurvado sob o seu peso!Outrora, pois me parece que faz anos e não semanas, eu era um homem como outro qualquer. Cada dia, cada hora, cada minuto tinha a sua ideia. O meu espírito, jovem e rico, era repleto de fantasias (...)
Sim, a morte! E, aliás, repetia-me não sei que voz interior, o que arrisco dizendo isso? Nenhuma sentença de morte foi jamais pronunciada em circunstância outra que à meia-noite, sob a luz de tochas, em uma sala escura e negra, numa noite chuvosa e fria de inverno! Mas no mês de agosto, às oito horas da manhã, num dia tão bonito, esses bons jurados, impossível! E os meus olhos voltavam a se fixar na delicada flor amarela banhada de sol (...)
E depois, o que escreverei assim talvez não seja inútil. O diário dos meus sofrimentos, hora a hora, minuto a minuto, suplício a suplício, se eu tiver a força de conduzi-lo até o momento em que será fisicamente impossível continuar, esta história necessariamente inacabada, mas tão completa quanto possível, das minhas sensações, não carregará consigo um grande e profundo ensinamento? (...)
Enquanto escrevia tudo isso, a luz da lamparina empalideceu, o dia chegou, o relógio da capela soou seis horas.O que isso significa? O carcereiro de turno acaba de entrar na minha cela, tirou o seu chapéu, saudou-me, pediu desculpas por me perturbar e perguntou-me, suavizando o quanto pôde a sua rude voz, o que eu desejava almoçar... Um calafrio correu o meu corpo. Vai ser hoje? (...)
Pobrezinha! Teu pai que te amava tanto, teu pai que beijava o teu pescocinho branco e perfumado, que passava sem parar as mãos nos cachos dos teus cabelos como sobre uma seda, que pegava teu lindo rostinho redondo nas mãos, que te balançava nos joelhos e, de noite, unia as tuas duas mãozinhas para rezar a Deus!Quem te fará tudo isso agora? (...)
Ora! Vamos, coragem diante da morte, tomemos esta terrível ideia com as duas mãos e consideremo-la de frente. Perguntemos a ela o que ela é, saibamos o que ela quer connosco, esmiucemo-la por todos os lados, perscrutemos o enigma e olhemos antecipadamente para dentro do túmulo".

21 comentários:

Miosótis disse...

Muito obrigada pela visita e pelo smpático comentário.
Dessa forma, permitiu-me chegar até aqui para conhecer o seu blog.
E gostei...
Agora vou bisbilhotar melhor, se me permite.
Por agora deixo um beijo e um miosótis azul.

António Inglês disse...

Tenho alguma dificuldade em falar em pena de morte.
Eu sou contra a pena de morte, mas pergunto-me:
- se alguém tirar a vida a um filho meu, ou a alguém da minha família, como reagirei?
Eu sei que um crime não pode ser vingado ou compensado com outro.
Mas... como é que eu reagiria?
Não sei mesmo. Peço a Deus que tal nunca me aconteça.
Um abraço
José Gonçalves

Berta Helena disse...

É para reflectir. E bastante. O texto acaba por me fazer sentir até uma certa ternura - quando se refere à criança que ficará orfã. E a beleza da escrita de Victor Hugo, a clareza das ideias, os sentimentos que ali encontro fazem-me pender para o lado deste condenado. Mas, que fez ele? E movido porque circunstâncias? E o mal que fez quanto sofrimento provocou?
E depois lembro-me disto: Por duas ou três vezes lidei com pessoas detidas no Estabelecimento Prisional do Funchal, em reportagem, doutras vezes porque me pediram apoio para as Festas de Natal dos Reclusos. Não consigo esquecer a quantidade de braços que se estendiam para mim, para uma palavra, um aperto de mão, qualquer coisa que os fizesse contactar com o exterior, o seu mundo anterior ao crime. E eu saía de lá abalada porque me dava uma vontade enorme de ajudá-los e bem pouco podia fazer. Conversar, dar ânimo... Mas chocou-me muito e era disso que queria falar - já me estendi muito - ver dois condenados a muitos anos de prisão por terem assassinado um homem, um caso muito conhecido, contarem-me o crime com todos os pormenores e uma frieza impressionante, capazes de repetirem tudo. E fico insegura quanto à minha posição sobre o assunto que aqui me trouxe.
Mas é verdade, a pena de morte não faz qualquer sentido.

Um abraço.

amsf disse...

Uma coisa é a reacção expontânea da vítima do crime ou dos amigos e familiares, outra coisa é a reacção do Estado. O Estado não pode gerir estas questões de forma vingativa!

A Polónia com os seus valores católicos (anti-aborto mas pró pena de morte) condicionou e condiciona a posição da União Europeia nesta questão!
Faz-me lembrar o Reino Unido que é suposto ser membro integral da UE mas que toma posições favoráveis aos interesses económicos do seu aliado americano. Tal como o Reino Unido é um cavalo de tróia económico dos EUA também a Polónia o é no plano religioso do Vaticano.

as minhas palavras disse...

Um blog diferente, original! :)

Beijos xXx

Pipoca
As Minhas Palavras

Anónimo disse...

Morte aos assassinos se mataram tem de ser castigados da mesma forma.

Andreia disse...

Contra a pena de morte!

Dhyana disse...

Faço minhas as palavras do José Gonçalves.
Não deixa de ser um tema para reflectir. Qd penso nos crimes hediondos que somos capazes de cometer,...
Beijos.

Dhyana disse...

Não agradeci a tua visita ao Templo, aproveito para o fazer agora e agradecer o comentário solidário sobre o texto da Violência domést.
Obrigada.

Joana disse...

Desde sempre defendi a abolição da pena de morte, mas muito mais no meu primeiro semestre de Doutoramento que passei em Houston no Texas, pelas razões mais evidentes.
Pena que o dia seja europeu e não MUNDIAL.

Jinhos.

P.S. Tivemos o mesmo (excelente, concordo) professor de Literatura, andámos na mesma Universidade, não sei é se terá sido na mesma cidade (Braga?)

Rui Caetano disse...

Mas que boa coincidência. Eu frequentei a UCP na extensão do Funchal.

Passaro Azul disse...

Voei at� aqui,com vontade de o conhecer melhor, j� que tenho lido coment�rios seus, que me encantam.
Encontrei um espa�o Madeirense por onde certamente voarei mais vezes.
Contra a pena de morte, em absoluto!
Parab�ns por este espa�o.
Um abra�o de P�ssaro Azul.

Anónimo disse...

Há condenados á morte que podem estar inocentes e alguns já sofreram a pena e estavam inocentes.Condenar uma pessoa á pena de morte pode ser o maior crime cometido basta estar inocente e depois não se pode fazer nada.Pena de morte nunca.

Anónimo disse...

Obrigada pela sua visita no Conjunto C.
Eu não concordo com a pena de morte, acho que todos temos direito à vida e que há outras maneiras de se castigar uma pessoa pelos crimes que comete.

Su disse...

sou a favor----------------pois

jocas maradas

Sol da meia noite disse...

Basta que seja morte, para não fazer sentido.
Muito menos, sendo morte provocada e por antecipação...
E o pior, morte anunciada, ao pormenor...

Beijinhos!

Elvira Carvalho disse...

Pessoalmente sou contra a pena de morte. Claro que como diz o José já me tenho interrogado se eu oensaria assim se fosse com o assassino de um filho. Talvez nessa altura eu também exigisse a pena de morte. A maneira como reagimos é sempre diferente se em causa estão os nossos. De qualquer modo também não estou de acordo que um assassino em série que mata dez ou vinte pesoas apanhe 25 anos de prisão e saia ao fim de 15,por ter sido amnistiado ou ter bom comportamento na prisão.
Um abraço

mim disse...

Olá!
Obrigada pela tua visita ao Espelho dos Sentidos.
E parabéns pelo teu blogue.
Agora que o início do ano lectivo começa a repousar (só agora!), espero ter tempo para ver o que nele guardas.
Um beijo!

Anónimo disse...

Hoje, e já com 50 anos, continuo a não hesitar, sim (!!!!!) à pena de morte.

Mas respeito quem é contra...ficariamos aqui a noite toda na "conversa".

SILÊNCIO CULPADO disse...

Apesar do meu comentário vir atrasado porque já passou o 10 de Outubro, não quero deixar de pôr aqui a marca de quem é sempre, e em qualquer circunstância, contra a pena de morte. A pena de morte não se justifica e, por isso, todos a uma só voz repudiemo-la vivamente.

GS disse...

Victor Hugo é para mim um dos mais profundos pensadores 'europeus' e mundiais!

Toda a sua obra está repleta de sentida experiência sobre a alma!

Quanto ao assunto que assinala... eu tenho um imenso pesar!