quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Um livro a não perder!

"Não vás. E não fui. Ainda que todo o dia, toda a vida, tivesse esperado aquele instante, único entre todos os instantes, ainda que tivesse imaginado o mundo ao pormenor depois da fronteira pequena daquele instante, não fui. Não vás. Ainda que se tivesse levantado uma cegonha a planar como um abraço que nunca demos, mas que julgámos possível, ainda que todo eu a tenha olhado, ainda que lhe tenha dito espera por mim, hoje vou buscar-te, ainda que o crepúsculo nos tenha visto onde só vão os mais sinceros, entrei neste quarto, e deitei-me nesta cama (...). Não vás. E não fui. Não me perdeste mãe. Perdi-me eu de mim próprio, desencontrei-me de mim onde nunca estive, onde nunca estarei. E não te culpo de nada, como não culpo a lua que nasce todas as noites, o sol, a terra que me puxa. Não te culpo de nada. E agora que sei onde estás, porque sempre te conheci esquecida aí, porque sempre te vi entre as ruínas de um silêncio amordaçado, aí esquecida, entre o que um dia os homens chamaram morte, entre o que um dia os homens chamaram noite e frio; agora que sei onde estás, tenho de levantar-me da cama".

José Luís Peixoto, Nenhum Olhar

Li este livro e simplesmente adorei. Ao lermos esta obra de José Luís Peixoto embrenhamo-nos numa envolvente prosa poética que, por um lado, nos comove e, por outro, nos força a sentir a dor de cada uma das suas personagens em cada esquina do tempo.
Coloco aqui um excerto para que possam sentir a beleza das palavras de Nenhum Olhar.

19 comentários:

Anónimo disse...

O texto parece um poema. Aguçou-me o apetite por esse livro, obrigado.

Bina Goldrajch disse...

Nossa, que trecho mais lindo...

uma bela dica de leitura!

Thanks.

Anónimo disse...

Que bem que soube, que vontade de não parar... Só vale a pena assim, quando não conseguimos parar...

Um beijo

Maria P. disse...

Li à relativamente pouco tempo de José Luís Peixoto "Hoje Não" e gostei bastante. Este ainda não li.

Obrigada pela visita.

P.S. Concordo com o comentário anterior.

Anónimo disse...

lindo lindo lindo, gostei bastante.

vieira calado disse...

Ainda não li. Mas tomei nota. Obrigado. Boa semana.

Silvia Madureira disse...

Sem dúvida que este pequeno excerto revela uma canção de embalar. Está cheio de sentimentos dolorosos e descritos com uma linguagem bela pois vai buscar os elementos mais belos da natureza. Pena serem caros os livros!
beijo

Alda Serras disse...

Venho agradecer as visitas e os comentários no tira-teimas. É com prazer que mantenho o blogue e apraz-me saber que também agrada a outros. Obrigada.

Nilson Barcelli disse...

O livro é muito bom, de facto.
Obrigado pela tua visita, volta sempre.
Gostei do teu blogue, é interessante.
Abraço

PS: colocaste o teu endereço errado, tive que andar à tua procura pela madeira inteira...

tchi disse...

É uma escrita apelo a de José Luís Peixoto. "Nenhum Olhar" é uma obra que já li e reli e aonde torno de quando em vez.
Um jovem autor que vale a pena ler.
è de José Luís Peixoto a seguinte afirmação: «As palavras em si não são nada, são necessárias pessoas para as ler».
Leiamos, pois.

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Rui, gostei do livro, vou comprá-lo
se já estiver á venda.
Gostei do texto!
beijinhos,
Fernandinha

sofialisboa disse...

obrigada pela sugestão. sofialisboa

Anónimo disse...

Os livros que gostamos devem ser partilhados aos outro,obrigada pela sua sugestão.

Berta Helena disse...

Gostei muito de reler este excerto. Ainda bem que o escolheu. Li o livro há já algum tempo e gostei muito.

Um abraço.

Elvira Carvalho disse...

Vou tentar ler. Já tomei nota do livro e do autor.
Um abraço

isabel mendes ferreira disse...

e somos dois...

somos muitos afinal....


é de facto um belíssimo livro poético .. .. prosa iluminada!



(obrigada pelas "horas tardias"..:)

Joana disse...

É o meu escritor predilecto. Que bom que alguém o divulga! Este livro é estudado no âmbito da cadeira anual de Teoria da Literatura numa Universidade do sul de Espanha cujo nome não recordo agora. (Em Portugal a generalidade das pessoas, dentro e fora do meio académico, sei-o porque nele me insiro, não conhece nem o Homem, nem a obra). Deixo-lhe também a sugestão de explorar os livros de poesia do JLPeixoto, nomeadamente "A criança em ruínas" que é o meu favorito.

Jinhos.

P.S. Ontem vi-no espaço noticioso da RTP-M e fiquei com a impressão de que a reportagem foi cortada muito abruptamente. É pena. Mas que sirva, não obstante, de incentivo e lhe dê alento para continuar o seu trabalho.

Gi disse...

Vou tomar em consideração esta sugestão. Sou uma devoradora de livros e este teu post despertou-me a curiosidade, não conheço nem a obra nem o autor.

Obrigada

Bom fim de semana prolongado

Um beijinho

Rui Caetano disse...

A JJ:

Por acaso não conheço a sua poesia, mas prometo que vou procurar o livro que sugeriste. Obrigado.