sábado, 10 de novembro de 2007

Escorar a vida


Vagueio por entre os trilhos da cidade
enfrento os espaços
os edifícios mais as amontoadas silhuetas
e pasmo a flutuar
saio dali e abafo as formas com o silêncio
profundo do futuro.

Esgravato um alicerce para escorar aí a minha vida
mas ouço apenas o cantar de um pássaro
não é um rouxinol
é um murmúrio longo misterioso
igual ao som do vento
a sussurrar nas gargantas das ruas estreitas.


Rui Caetano

21 comentários:

RDSER disse...

Oi passando para retribuir tua visita a meu cantinho...e aproveitando para te desejar um ótimo fim de semana!
Bjim

Maria Faia disse...

Bonito poema Amigo,

Venho desejar-te um excelente fim de semana, nesse "paraíso" madeirense.

Um beijo continental,
Maria Faia

Anónimo disse...

"Esgravato um alicerce para escorar aí a minha vida"

E quantos de nós não o fazem, hum?
Um beijinho, gostei muito do que li e agradeço, desde já, a visita e o comentário.

Paula Raposo disse...

Obrigada pela visita e pelo comentário. Curiosamente estou ligada à Madeira porque um dos meus filhos viveu aí os últimos anos e um dos meus netos é daí...o mundo é de facto, pequeno...serás sempre bem vindo, tanto no romãs como no http://paginaminha.blogspot.com. Beijos.

Sol da meia noite disse...

Também eu vagueio...
Também eu tento escorar a minha vida...

Neste poema, nas tuas palavras me revejo.
Muito bonito!

*

DE-PROPOSITO disse...

Escorar a vida?!...
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É uma realidade, nua e crua.
A partir de certo momento, a vida tem mesmo de ser escorada, porque a hipótese de cair é muito grande. E chegará um momento, em que, por mais escoras que se ponham, as mesmas já não valem de nada, sendo a queda, apenas uma questão de tempo.

Anónimo disse...

SILÊNCIO CULPADO disse...
Perante uma grande sacanice que está a ser feita sobre alguns professores que não recebem vencimento,têm horários d e12 horas ou estão a recibos verdes sugere-se que todos os blogues publiquem a notícia que está no http://cegueiralusa.blogspot.com

7 disse...

Espero que as asas que empregas te ajudem a flutuar e a fugir ao urbanismo que tanto tentas escapar. Eu por cá tento fazer o mesmo, mas a paisagem madeirense é mais rica para bons voos. Abraços.

Silvia Madureira disse...

A cidade tem muito para ver, pensar, sonhar, ouvir...enfim tudo o que trazes neste poema.

beijo

Ana Luar disse...

"Esgravatar um sitio para ali escorar a minha vida..."

Algo que me deixou a pensar! :)

avelaneiraflorida disse...

BELO POEMA!!!!
O pulsar da cidade no sentir de quem nela passa ou vive...

Cada vez mais a cidade perde a sua urbanidade...isola-se e isola os que nela vivem!!!!

BOM FIM DE SEMANA!

Gata Verde disse...

Quem será o sussuro? Os teus pensamentos?

Beijinhos

Alexandre disse...

Acho que passamos a vida a procurar alicerces para escorar as nossas vidas... porque as nossa vidas não passam de silhuetas...

Um abraço!!!

Camilo disse...

ESCORAR A VIDA...
ESGRAVATAR...
Ao coment�rio do Alexandre acrescento:
"Passamos a vida a procurar alicerces para escorar as nossas vidas"... esgravatando at� ao sabugo das nossas unhas.
Parab�ns pelo magn�fico momento inspirativo.

bettips disse...

Deixo aqui o meu agradecimento pela palavra amiga. O poema é, tal como um alicerce, a estrutura de sensações vívidas. Desoladas, talvez. Viver aí...assim, nessa "incongruência" deve ser bem difícil... Valha-te a natureza. Abç

Berta Helena disse...

Esgravatar um alicerce para escorar a vida - no fundo é o que todos nós fazemos, não será? Mas dito assim, com as suas palavras a ideia ganha quase ganha asas...

Abraço.

Joana disse...

Temos Poeta!

Havia um pintor japonês, cujo nome não me lembro agora, que achava que só aos cem anos estaria apto fazer uma linha recta. Eu acho o mesmo em relação à poesia: quando tiver aí uns noventa e tantos anos devo conseguir escrever um poema.

Ainda bem que não é como eu. :)

Jinhos

APC disse...

(...)
Talvez [seja] nada.
Ou só um olhar
Que na tarde fechada
é ave.
Mas não pode voar.


(Rumor, Eugénio de Andrade)

... Directamente do meu blog; correspondendo à cortesia! :-)

APC disse...

PS - Curioso, o murmúrio que sempre perpassa num poema, se sentido!...
[Falo do teu, evidentemente]

Rogério Saraiva disse...

Sussurrar o futuro
escorar o silêncio daqueles que não sabem dizer, nem gritar. O poeta é toda voz, tudo aquilo que o povo não consegue dizer, o povo precisa do poeta pra respirar.
Abraços!

Anónimo disse...

Lindo!