«Excelentíssimo senhor presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, senhoras e senhores deputados:
A crise do sistema financeiro à escala global ajuda-nos a clarificar o modelo económico regional dos últimos 30 anos. Reforça, por assim dizer, o olhar crítico dos madeirenses sobre as opções políticas erradas de um mesmo governante. Não há nem povos superiores nem recursos financeiros para todo o sempre. E a fazer da governação um exercício ideológico constante é tão irracional como pensar que o sistema financeiro global tem capacidade para se regular por si próprio.
Na verdade, a cultura clientelar que se instalou na Madeira, há conta de um modelo totalitário de poder, tem premiado os medíocres, gente que geralmente apresenta à conta de virtude o seu cartão laranja ou o silêncio dos cúmplices. A subsídio-dependência em que vivem associações, clubes e até cidadãos serve os interesses de quem se procura preservar no poder. O cartão partidário, a bandeirinha na casa, os passeios nas comitivas têm servido de salvo-conduto para o emprego, para a habitação, para a promoção social. Valiam sempre mais que o valor, que o mérito.
A união regional à volta do PSD, reúne-se à volta da palavra autonomia. Mas esta autonomia é de pendor separatista, como aqueles que sabem interpretar discursos simples claramente percebem. No site do Governo Regional, o seu presidente afirma que a Autonomia política resulta de uma organização de massas que lutou, entre 74 e 76, contra os radicalismos dos partidos políticos que, no seu entender, queriam manter o "status colonial". E ataca-se os adversários desta autonomia de pendor separatista de "colaboracionistas com Lisboa", como se, de facto, a capital do país, ou o próprio país fosse o inimigo externo da família que vive a "fraternidade autonómica".
A união regional à volta do PSD tem funcionado como uma irmandade, uma família, onde os seus elementos se juntam à volta da mesma mesa, a mesa do orçamento regional. Como nas grandes famílias, há as hierarquias: O pai de todos, os padrinhos e os compadres. Uns vivem melhor do que outros, mas todos podem sentir a protecção perante os inimigos externos ao clã.
Sempre uns madeirenses espezinharam a grande maioria dos seus conterrâneos. E nunca esses tais gostaram de mudanças profundas na sociedade. Sempre quiseram ver as populações amarradas à submissão, à pobreza e à ignorância. São os mesmo de sempre, os que odiaram a Revolução Liberal, em implantação da República e, mais recentemente, o 25 de Abril. São os mesmos de sempre, os que usurparam a Autonomia. Aqueles que chamam tudo a si. Os que delapidam o erário público e bloqueiam o avanço da cidadania na região.
Senhoras e senhores deputados, os socialistas madeirenses contrapõem à sociedade clientelar, uma sociedade do mérito, da exigência e da responsabilidade individual. É por isso que redefinimos claramente a nossa acção política. Reforçamos o posicionamento ideológico, naquilo que deve ser hoje a social democracia e o socialismo democrático face ao capitalismo globalizado e ultraliberal. E reorientamos a afirmação autonómica - a Autonomia dos homens livres -, enquanto elemento diferenciador do projecto separatista e totalitário do PSD Madeira. Temos os nosso próprio caminho, é certo, mas balizado pelo mesmo horizonte e por um mesmo sentimento de pertença: Sermos membros do Partido Socialista e partilharmos uma Pátria comum, com os continentais e os açorianos. É através desta separação de águas que vinculamos as nossas propostas e realizamos as nossas iniciativas.
A crise financeira, económica e social da região tem, por conseguinte, a sua origem em pressupostos e ideológicos, seja num concepção totalitária de poder, seja numa concepção separatista da autonomia regional.
Se em termos políticos podemos considerar esta vocação totalitária e separatista como uma espécie de novo fascismo, o modelo de desenvolvimento decorrendo da necessidade de perpetuação do poder conduziu a um fascismo social, onde a pobreza, as desigualdades e a exclusão ganham contornos cada vez mais incontroláveis.
Definitivamente a Madeira não é um cantinho do céu. Se, no plano da governação regional, é completamente invisível aos olhos do cidadão comum a traficância de favores e a transferência de bons investimentos para as mãos dos privados, numa lógica de estado mínimo e numa ausência total de regulação, toda a gente pode constatar a desestruturação social que invadiu as nossas vilas e cidades.
Por isso, não nos afirmamos como um projecto cívico de contra-poder, ou como um movimento contra-cultural, face à autocracia e ao totalitarismo, à plutocracia e ao separatismo. Queremos merecer a confiança dos madeirenses para assumirmos as mais altas responsabilidades de servirmos todos os cidadãos, porque, senhores deputados profetas do separatismo, a vossa pátria é a vossa barriga, a vossa barriga é a daqueles que durante anos e anos sugaram os recursos financeiros dos impostos dos madeirenses, das transferências do estado e da UE.
Afirmamos que existe uma inacção governativa. O governo não governa. Prefere-se o conflito permanente com os órgãos de soberania, mascarando a realidade com a propaganda oficial. Faz-se chantagem com os madeirenses. E atribui-se todas as culpas da má governação regional ao Governo da República. Acicatar os madeirenses contra o inimigo externo é o que resta da estratégia para manter um poder absoluto. Em todos os países pobres do mundo faz-se o mesmo: instiga-se o ódio contra um inimigo externo e mantêm-se poderes totalitários e populações extremamente pobres.
Só com governantes livres e libertos, imbuídos de uma ética republicana de serviço à causa pública, como exigirá um governo socialista madeirense, é que se poderia estancar a derrapagem financeira e relançar a economia regional para que o bem-estar e a qualidade de vida cheguem a todos.
Esta é a hora da mudança, a hora da Autonomia dos homens livres, a hora dos madeirenses. Tenho dito.»
Assembleia Legislativa da Madeira, 16 de Outubro de 2008.
A crise do sistema financeiro à escala global ajuda-nos a clarificar o modelo económico regional dos últimos 30 anos. Reforça, por assim dizer, o olhar crítico dos madeirenses sobre as opções políticas erradas de um mesmo governante. Não há nem povos superiores nem recursos financeiros para todo o sempre. E a fazer da governação um exercício ideológico constante é tão irracional como pensar que o sistema financeiro global tem capacidade para se regular por si próprio.
Na verdade, a cultura clientelar que se instalou na Madeira, há conta de um modelo totalitário de poder, tem premiado os medíocres, gente que geralmente apresenta à conta de virtude o seu cartão laranja ou o silêncio dos cúmplices. A subsídio-dependência em que vivem associações, clubes e até cidadãos serve os interesses de quem se procura preservar no poder. O cartão partidário, a bandeirinha na casa, os passeios nas comitivas têm servido de salvo-conduto para o emprego, para a habitação, para a promoção social. Valiam sempre mais que o valor, que o mérito.
A união regional à volta do PSD, reúne-se à volta da palavra autonomia. Mas esta autonomia é de pendor separatista, como aqueles que sabem interpretar discursos simples claramente percebem. No site do Governo Regional, o seu presidente afirma que a Autonomia política resulta de uma organização de massas que lutou, entre 74 e 76, contra os radicalismos dos partidos políticos que, no seu entender, queriam manter o "status colonial". E ataca-se os adversários desta autonomia de pendor separatista de "colaboracionistas com Lisboa", como se, de facto, a capital do país, ou o próprio país fosse o inimigo externo da família que vive a "fraternidade autonómica".
A união regional à volta do PSD tem funcionado como uma irmandade, uma família, onde os seus elementos se juntam à volta da mesma mesa, a mesa do orçamento regional. Como nas grandes famílias, há as hierarquias: O pai de todos, os padrinhos e os compadres. Uns vivem melhor do que outros, mas todos podem sentir a protecção perante os inimigos externos ao clã.
Sempre uns madeirenses espezinharam a grande maioria dos seus conterrâneos. E nunca esses tais gostaram de mudanças profundas na sociedade. Sempre quiseram ver as populações amarradas à submissão, à pobreza e à ignorância. São os mesmo de sempre, os que odiaram a Revolução Liberal, em implantação da República e, mais recentemente, o 25 de Abril. São os mesmos de sempre, os que usurparam a Autonomia. Aqueles que chamam tudo a si. Os que delapidam o erário público e bloqueiam o avanço da cidadania na região.
Senhoras e senhores deputados, os socialistas madeirenses contrapõem à sociedade clientelar, uma sociedade do mérito, da exigência e da responsabilidade individual. É por isso que redefinimos claramente a nossa acção política. Reforçamos o posicionamento ideológico, naquilo que deve ser hoje a social democracia e o socialismo democrático face ao capitalismo globalizado e ultraliberal. E reorientamos a afirmação autonómica - a Autonomia dos homens livres -, enquanto elemento diferenciador do projecto separatista e totalitário do PSD Madeira. Temos os nosso próprio caminho, é certo, mas balizado pelo mesmo horizonte e por um mesmo sentimento de pertença: Sermos membros do Partido Socialista e partilharmos uma Pátria comum, com os continentais e os açorianos. É através desta separação de águas que vinculamos as nossas propostas e realizamos as nossas iniciativas.
A crise financeira, económica e social da região tem, por conseguinte, a sua origem em pressupostos e ideológicos, seja num concepção totalitária de poder, seja numa concepção separatista da autonomia regional.
Se em termos políticos podemos considerar esta vocação totalitária e separatista como uma espécie de novo fascismo, o modelo de desenvolvimento decorrendo da necessidade de perpetuação do poder conduziu a um fascismo social, onde a pobreza, as desigualdades e a exclusão ganham contornos cada vez mais incontroláveis.
Definitivamente a Madeira não é um cantinho do céu. Se, no plano da governação regional, é completamente invisível aos olhos do cidadão comum a traficância de favores e a transferência de bons investimentos para as mãos dos privados, numa lógica de estado mínimo e numa ausência total de regulação, toda a gente pode constatar a desestruturação social que invadiu as nossas vilas e cidades.
Por isso, não nos afirmamos como um projecto cívico de contra-poder, ou como um movimento contra-cultural, face à autocracia e ao totalitarismo, à plutocracia e ao separatismo. Queremos merecer a confiança dos madeirenses para assumirmos as mais altas responsabilidades de servirmos todos os cidadãos, porque, senhores deputados profetas do separatismo, a vossa pátria é a vossa barriga, a vossa barriga é a daqueles que durante anos e anos sugaram os recursos financeiros dos impostos dos madeirenses, das transferências do estado e da UE.
Afirmamos que existe uma inacção governativa. O governo não governa. Prefere-se o conflito permanente com os órgãos de soberania, mascarando a realidade com a propaganda oficial. Faz-se chantagem com os madeirenses. E atribui-se todas as culpas da má governação regional ao Governo da República. Acicatar os madeirenses contra o inimigo externo é o que resta da estratégia para manter um poder absoluto. Em todos os países pobres do mundo faz-se o mesmo: instiga-se o ódio contra um inimigo externo e mantêm-se poderes totalitários e populações extremamente pobres.
Só com governantes livres e libertos, imbuídos de uma ética republicana de serviço à causa pública, como exigirá um governo socialista madeirense, é que se poderia estancar a derrapagem financeira e relançar a economia regional para que o bem-estar e a qualidade de vida cheguem a todos.
Esta é a hora da mudança, a hora da Autonomia dos homens livres, a hora dos madeirenses. Tenho dito.»
Assembleia Legislativa da Madeira, 16 de Outubro de 2008.
4 comentários:
Bem caro amigo li até o fim... mas garanto-te que não entendo lá muito bem dessas coisas ai não... lolol... "pra não dizer que não entendo nada" kkk
Mas esta muito bem explicado!
Beijos no coração e bom fim de semana
Iana!!!
Um belo discurso de João Carlos Gouveia.
Que os futuros jardins da Madeira sejam repletos de cravos vermelhos, reveladores de uma mudança por que todos os madeirenses anseiam e merecem.
Chega de ditadura e má educação, desculpe-me o termo.
Esta frase com que o discurso termina e que se me permite, transcrevo é muito apelativa e plena de sentido. Faz lembrar Luther King no seu célebre discurso “Tive um sonho”!
“Esta é a hora da mudança, a hora da Autonomia dos homens livres, a hora dos madeirenses. Tenho dito”.
Que assim aconteça.
Um abraço.
Bom discurso!
30 anos sem alternância de poder geram muitos clientelismos. Pena que a Autonomia seja sinónimo sempre de confrontação e não de cooperação como deveria ser. A longo prazo as consequências poderão ser nefastas a manter a actual dialéctica.
Pena a anomia que ataca a maioria da população.
Peço desculpa, mas enganei-me ao referir-me ao discurso de Luther King:" Ele disse: "Eu tenho um sonho" e não "Eu tive um sonho", como indiquei.
Bom fim de semana.
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