sábado, 15 de agosto de 2009

Distinguir as expressões faciais - Artigo muito INTERESSANTE

A diferenciação cultural entre ocidentais e asiáticos no modo de interpretar as caras e expressões pode ser produto de milhares de anos de evolução, mas reflecte-se nas últimas conquistas da humanidade... e até nas mais pequenas.
Essa diferença na importância que os dois grupos dão aos olhos e à boca para transmitir emoções é visível no aspecto dos pequenos ícones usados na Internet para exprimir estados de espírito, conhecidos como emoticons. "São representações de expressões faciais" e mostram como as percebemos, lembra a investigadora Rachael Jack, co-autora do estudo da Universidade de Glasgow sobre o tema.
Os emoticons asiáticos apresentam traços muito mais marcados na parte superior do rosto, principalmente nos olhos, ao passo que os ocidentais usam sobretudo a boca para transmitir um estado emocional. Ou seja, para os asiáticos, a diferença entre um emoticon feliz e um triste está na forma como desenham os olhos, enquanto para os ocidentais estão no formato da boca.

Distinguir uma expressão facial de medo de uma de surpresa, ou uma cara de nojo de uma de ira, é mais complicado para os asiáticos do que para os ocidentais, argumenta um estudo da Universidade de Glasgow. Os investigadores contestam a noção de que as expressões faciais são universais e explicam porquê num artigo publicado esta semana.

A alegria, a tristeza e o medo são sentimentos universais, mas a forma como se reflectem na nossa cara, e como nós os percebemos nas expressão dos outros, não. Pelo menos segundo investigadores da Universidade de Glasgow, na Escócia. Um estudo publicado esta semana contesta a noção de que as expressões faciais são universais e defende que a maneira como as interpretamos é condicionada pela nossa cultura.

Segundo esta investigação, publicada na revista Current Biology, uma cara de nojo não é vista da mesma forma por um ocidental e por um asiático, por exemplo. Os asiáticos, em maior grau do que os ocidentais, tendem a ver nojo numa cara que realmente mostra ira. Ou surpresa numa expressão de medo.

E a diferença não está na expressão em si, mas na forma como olhamos. Rachael Jack, co-autora do estudo, explica que os indivíduos de diferentes culturas tendem a observar partes distintas da cara para interpretar uma expressão: os asiáticos concentram-se sobretudo nos olhos do interlocutor, enquanto os ocidentais olham para o conjunto da cara, incluindo a boca.

Assim, as pessoas da Ásia oriental têm maior dificuldade em distinguir expressões, dizem os investigadores, porque "a região dos olhos é mais ambígua" e dá informação mais confusa.

A experiência consistiu em mostrar a 13 ocidentais e a 13 asiáticos imagens de rostos com expressões faciais que indicavam: felicidade, tristeza, surpresa, medo, nojo, ira ou uma indiferença ou neutralidade. Monitorizando o movimento dos olhos dos participantes foi possível determinar para onde é que eles olhavam, o que permitiu analisar as diferenças entre os membros de um grupo e do outro. E concluir que enquanto os ocidentais tentam abarcar toda a cara, os asiáticos se concentram nos olhos. O estudo sugere ainda que estas diferença são um reflexo de outra característica cultural: os asiáticos usam mais os olhos para comunicar emoções.
Curiosamente, um programa de computador em que foi inserida a informação recolhida pelos olhos dos participantes asiáticos também não conseguiu distinguir entre o nojo e a ira, nem entre o medo e a surpresa. O que leva os investigadores a afirmar que esta não é a melhor estratégia.
Por outro lado, Rachael Jack considera que, quando têm dúvidas, os asiáticos tendem a escolher a emoção socialmente mais confortável - "surpresa, em vez de medo, por exemplo" - e que isso realça as diferenças culturais no que toca à "aceitação social das emoções" . Ou seja, as expressão faciais também precisam de tradução.
Tags: Ciência
http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1335737

3 comentários:

Joana disse...

Muito interessante!

Num mundo cada vez mais global(izado), menos interessado em comunicar efectivamente, e tão marcado socialmente pelo Orirnte e pelos Asiáticos, um projecto de investigação com todo o interesse!



Jinhos.

Je Vois La Vie en Vert disse...

Um artigo realmente interessante, Rui.

Às vezes, penso, sendo crente, como o mundo está tão bem feito e como é possível haver milhões de pessoas na terra e serem todos diferentes !

Beijinhos

Verdinha

Manuel Veiga disse...

muito interessante!faz todo o sentido.

a "linguagem" facial tem seus códigos. em função não apenas da diversas culturas, mas até variáveis de época para época, no interior de uma dada cultura...

abraço