Nove meses depois de o escândalo rebentar e a pouco mais de três meses da data prevista para as legislativas, a reputação do Parlamento britânico sofreu esta quinta-feira novo revés. O relatório às despesas dos deputados concluiu que o sistema de reembolsos é “profundamente defeituoso” e que a “cultura de deferência” que subsiste em Westminster favorece os abusos.
Concluídas as investigações, mais de 300 actuais e antigos deputados terão de devolver 1,12 milhões de libras (1,2 milhões de euros) recebidos indevidamente desde 2004 – um pouco menos do que o custo final do inquérito.
“Documento da vergonha.” Foi assim que o Times chamou ao relatório de 241 páginas preparado por Thomas Legg, o antigo dirigente da administração pública que Gordon Brown chamou para aplacar a polémica criada em Maio, quando o Daily Telegraph publicou detalhes dos gastos (em alguns casos apenas excêntricos noutros totalmente irregulares) dos deputados com a segunda residência, aquela a que têm direito os eleitos por círculos fora de Londres.
E o veredicto hoje tornado público não podia ser mais devastador: o sistema é “profundamente defeituoso”, as regras são “vagas” e em muito casos não existem documentos que justifiquem as despesas. “Tendo em conta a falta de transparência e a cultura de deferência, isto significa que falta legitimidade às decisões tomadas [pelos funcionários] do gabinete de despesas e muitas delas estavam de facto erradas”, conclui Legg.
Ao todo, 364 deputados – mais de metade dos investigados – terão de devolver dinheiro recebido entre 2004 e 2009, em valores que variam entre as 42 mil libras exigidas à secretária de Estado da Administração local, Barbara Follet, e os 40 pence pedidos ao deputado trabalhista Mike Gapes.
A maioria terá de devolver entre mil a cinco mil libras, uma conta muito inferior à apresentada ao casal torie Andrew Mackay e Julie Kirkbride. Durante anos, um deles recebeu ajuda do Parlamento para pagar um apartamento em Londres, enquanto ao outro eram pagas as prestações da residência familiar.
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