Cada vez mais estou convencido que o que se tem passado nestes últimos dias na Assembleia da República, em matéria de auscultação de jornalistas, não passa de uma idiota palhaçada, destinada a branquear factos e a esconder a verdade. Quando se fala em manipulação de informação, estamos a falar, em primeira instância, de uma alegada utilização criminosa de empresas públicas para fins que não são os delas, transformando-as em placas giratórias de negócios e negociatas que pouco ou nada dizem respeito a jornalistas, já que se situam num patamar superior, ao nível das administrações das empresas.
Esta é a primeira componente que julgo estar a ser deliberadamente pouco valorizada pelo incómodo que a mesma causa e porque não interesse mantê-la em relevo. Mas que é essencial a uma abordagem séria e mais generalizada da temática, a qual tem, obviamente outras componentes, nomeadamente a de gestão (receitas publicitárias, situação financeira das empresas, tiragens, audiências, etc) que podem manietar e condicionar fortemente muita coisa, inclusivé em termos de recursos humanos, e a componente jornalística que tem a ver com a existência ou não de situações de censura, de gestão sectária dos quadros redactoriais na cobertura dos acontecimentos, de advertências ou sugestões aos profissionais, de manipulação dos canais de informação, de dependência de uma rede selectiva de ”fontes” de informação que deturpam factos e manipulam as notícias, de eventuais tentativas de “domesticação” de jornalistas, por via de chantagens, ameaças ou aliciamentos, etc. Estamos a falar de realidades diferentes, situadas a níveis de análise também diferentes.
Neste contexto, quando ouvimos um vice-presidente do PS local, sem ofensa a asneirar, ao misturar todas estas questões que têm sido denunciadas a nível nacional, e que todos os dias alimentam os meios de comunicação, lançando a confusão, a dúvida e a suspeição sobre os portugueses que mais atentamente seguem estas alegadas vigarices e patifarias de patifes sem dignidade para estarem onde estão (e a demissão de um “gestor” da PT, apenas um dos “boys” nomeados por Sócrates, sem qualquer perfil nem experiência para o exercício do cargo, veio apenas relançar a suspeição de que há podridão por investigar e culpabilidade na empresa visada), e cujos contornos e verdade ninguém conhece nem é capaz sequer de vaticinar, com o que segundo ele, pretensamente ocorre na Madeira, na tentativa de meter Alberto João Jardim ao barulho (tal como os socialistas pretenderem fazer com Cavaco Silva em Lisboa), estamos perante um exemplo do que é querer aparecer mesmo que à custa de discursos pindéricos.
Pretender envolver Alberto João Jardim neste caso faz tão sentido como alguém trazer para a mesa agressivas declarações de Sócrates sobre jornalistas e televisões, algumas proferidas em entrevistas televisivas, ou recordar discursos e ameaças feitas pelo actual primeiro-ministro num discurso proferido num congresso do PS.
Por isso, das três, uma: ou ele (e outras pessoas as quais, por muito respeitáveis que sejam, são politica e ideologicamente, inegavelmente conotáveis, o que retira consistência a qualquer declaração, acusação ou pretensa “denúncia” que façam, porque acabam por estar em sintonia com perspectivas partidárias, com as quais estão alinhados, e que não são para aqui chamadas), estão a querer esconder o sol com a peneira, ou estamos perante uma asneira despropositada só possível porque originária de quem não conhece a realidade do que fala (nem tem que conhecer) – mas neste caso deveria estar calado - e desesperadamente tenta partidarizar um assunto demasiado sério e que nada tem a ver com histerias que antecederam descalabros eleitorais nas autárquicas do ano passado, ou simplesmente não perceberam bem as conversas da treta, manipuladas, sectárias e doentias, que lhes disseram para dizer.Se a ideia é confundir tudo (não foi Almeida Santos que já garantiu que isto vai ficar “em nada”?!), então, e nessa ordem, podemos dar um passo em frente, o que implicaria que recomende à Comissão Parlamentar de S. Bento que convoque António Lobo Xavier, não por haver seja o que for contra ele, mas sim por ter sido o administrador do grupo Sonae a quem foi entregue o acompanhamento do inquérito interno à fuga de informação das mensagens de correio electrónico, do qual parece haver conclusões.
Porque a realidade é que subsiste hoje a dúvida se houve ou não uma propositada “venda” de informação, decidida por motivações partidárias, a uma agência de comunicação que trabalhava (trabalha) para o PS e o governo socialista, a qual depois tentou vender a várias “capelas” tendo apenas encontrado acolhimento junto do DN do grupo Oliveira, por razões que todos conhecem e que a divulgação das “escutas” confirmaram.
A questão é muito simples: ou as denúncias são investigadas, e a Assembleia da República não é a entidade competente para o fazer, porque estamos a falar de matéria potencialmente criminal e policial e não de assuntos para deambulações partidárias ou despiques políticos entre deputados que não têm mais nada que fazer. Misturar no mesmo “saco” a questão da liberdade de imprensa com situações empresariais, potencialmente bem mais graves, mesmo que elas estejam directamente relacionadas, e estão concerteza, à problemática da informação em geral e da liberdade dos jornalistas em particular, é uma absoluta idiotice, compreensível apenas, como pode ser o caso, por estarmos perante pessoas e entidades apostadas em promoverem encenações e palhaçadas e não em discutir seriamente questões demasiado complexas e sérias.
O défice de credibilidade e da confiança dos políticos junto dos eleitores, e dos portugueses em geral, começa exactamente nestas pequenas atitudes…
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