Mas para além do hino e da bandeira, já que a moeda (escudo) se foi, o que representa ser republicano?
A partir da madrugada de 4 de Outubro, desencadeou-se o movimento revolucionário que pôs fim à Monarquia em Portugal. Depois de momentos de incerteza, algum desespero e deserção, ditados, em grande parte, pela divulgação da notícia do assassinato do médico Miguel Bombarda e do suicídio do almirante Cândido dos Reis, chefes civil e militar da revolta, respectivamente, a determinação e a coragem do comissário naval, Machado Santos, foi decisiva para a vitória das forças republicanas na Rotunda.
Pelas 9 horas do dia 5 de Outubro, José Relvas e Eusébio Leão proclamaram a República na varanda da Câmara de Lisboa. De imediato, surgiram profundas divergências entre os chefes militares revolucionários e os republicanos da edilidade lisboeta, por causa da composição do Governo Provisório. Este incidente não augurava bom futuro à República e à republicanização do país.
O poeta Guerra Junqueiro considerou o triunfo dos republicanos como "o milagre da Rotunda". Gomes da Costa viu a Revolução como "uma fuga; uma debandada", de monárquicos e republicanos. Por sua vez, Raul Brandão, repetindo o que diziam os vencidos, escreveu que foi um "bambúrrio", isto é, um acaso feliz, acrescentando que "bastou um estrondo para desabar o trono".
O resto fez o telégrafo, difundindo informações sobre os acontecimentos da capital. E, por todo o país, fervorosos republicanos e "adesivos" foram dando vivas à República, recém-implantada, e agitando bandeiras verde-rubras, acompanhados por bandas de música.
Esperada e conhecida de véspera, praticamente não houve resistência das forças monárquicas à insurreição republicana. A monarquia, com mais de sete séculos, agonizava, em especial após o "ultimato inglês". O que se passou depois pode ser resumido a uma triste, desonrosa e ruidosa caminhada para o abismo.
Em Janeiro de 1890, em 'Os pontos nos ii', Bordalo Pinheiro alvitrou um cognome para o rei: " D. Carlos I, o último". Só o regicídio impediu a consumação do inteligente presságio do caricaturista.
Em suma, envolvidos em escândalos e actos de corrupção, não dando respostas aos graves problemas socioeconómicos e financeiros do país, os políticos monárquicos contribuíram activamente para a queda do regime que os suportava, e o próprio rei acompanhou-os com a sua inépcia política e despesismo, pretendendo mesmo, em 1907, extinguir o constitucionalismo e prosseguir em ditadura.
Contudo, os republicanos não conseguiram realizar a República por eles sonhada. Com lucidez, afirmou, a propósito, João Chagas: "O mais grave erro da República foi o de não ter sabido realizar-se.»
Diversas vozes proclamaram então ser preciso fazer outra República. E vieram a "República Nova", de Sidónio Pais, a Ditadura Militar em 1926 e o Estado Novo na década seguinte.
Com o mesmo espírito de esperança, a Revolução do 25 de Abril refundou a República, libertando-as das mordaças e da sua humilhante redução aos símbolos nacionais, instituídos depois do 5 de Outubro, e que Oliveira Salazar não ousou substituir.
Mas para além do hino e da bandeira, já que a moeda (escudo) se foi, o que representa ser republicano nos dias de hoje? Mais do que relembrar a História, ainda que seja tarefa útil e muito importante, por tão ignorada e esquecida, julgo ser esta a grande reflexão para o 1.º Centenário do 5 de Outubro, embora a nossa Constituição admita apenas a forma republicana de governo.
In DIÁRIO
A partir da madrugada de 4 de Outubro, desencadeou-se o movimento revolucionário que pôs fim à Monarquia em Portugal. Depois de momentos de incerteza, algum desespero e deserção, ditados, em grande parte, pela divulgação da notícia do assassinato do médico Miguel Bombarda e do suicídio do almirante Cândido dos Reis, chefes civil e militar da revolta, respectivamente, a determinação e a coragem do comissário naval, Machado Santos, foi decisiva para a vitória das forças republicanas na Rotunda.
Pelas 9 horas do dia 5 de Outubro, José Relvas e Eusébio Leão proclamaram a República na varanda da Câmara de Lisboa. De imediato, surgiram profundas divergências entre os chefes militares revolucionários e os republicanos da edilidade lisboeta, por causa da composição do Governo Provisório. Este incidente não augurava bom futuro à República e à republicanização do país.
O poeta Guerra Junqueiro considerou o triunfo dos republicanos como "o milagre da Rotunda". Gomes da Costa viu a Revolução como "uma fuga; uma debandada", de monárquicos e republicanos. Por sua vez, Raul Brandão, repetindo o que diziam os vencidos, escreveu que foi um "bambúrrio", isto é, um acaso feliz, acrescentando que "bastou um estrondo para desabar o trono".
O resto fez o telégrafo, difundindo informações sobre os acontecimentos da capital. E, por todo o país, fervorosos republicanos e "adesivos" foram dando vivas à República, recém-implantada, e agitando bandeiras verde-rubras, acompanhados por bandas de música.
Esperada e conhecida de véspera, praticamente não houve resistência das forças monárquicas à insurreição republicana. A monarquia, com mais de sete séculos, agonizava, em especial após o "ultimato inglês". O que se passou depois pode ser resumido a uma triste, desonrosa e ruidosa caminhada para o abismo.
Em Janeiro de 1890, em 'Os pontos nos ii', Bordalo Pinheiro alvitrou um cognome para o rei: " D. Carlos I, o último". Só o regicídio impediu a consumação do inteligente presságio do caricaturista.
Em suma, envolvidos em escândalos e actos de corrupção, não dando respostas aos graves problemas socioeconómicos e financeiros do país, os políticos monárquicos contribuíram activamente para a queda do regime que os suportava, e o próprio rei acompanhou-os com a sua inépcia política e despesismo, pretendendo mesmo, em 1907, extinguir o constitucionalismo e prosseguir em ditadura.
Contudo, os republicanos não conseguiram realizar a República por eles sonhada. Com lucidez, afirmou, a propósito, João Chagas: "O mais grave erro da República foi o de não ter sabido realizar-se.»
Diversas vozes proclamaram então ser preciso fazer outra República. E vieram a "República Nova", de Sidónio Pais, a Ditadura Militar em 1926 e o Estado Novo na década seguinte.
Com o mesmo espírito de esperança, a Revolução do 25 de Abril refundou a República, libertando-as das mordaças e da sua humilhante redução aos símbolos nacionais, instituídos depois do 5 de Outubro, e que Oliveira Salazar não ousou substituir.
Mas para além do hino e da bandeira, já que a moeda (escudo) se foi, o que representa ser republicano nos dias de hoje? Mais do que relembrar a História, ainda que seja tarefa útil e muito importante, por tão ignorada e esquecida, julgo ser esta a grande reflexão para o 1.º Centenário do 5 de Outubro, embora a nossa Constituição admita apenas a forma republicana de governo.
In DIÁRIO
1 comentário:
Meu Caro Rui.
Bonito texto. As moscas são as mesmas,e a M....A é a mesma. Infelizmente continua a burguesia no seu auge, Os Nobres, o Clero e a Plebe continuam. Os Vampiros, continuam a sugar o vinho novo das tulhas do rei. Sómente ainda nos resta não lerem os nossos pensamentos, mas já vão adivinhando novamente. Estou em crer que mesmo com a idade que já me vem pesando sobre os ombros ainda hei-de reunir algumas forças para dizer basta. Esperemos, pois parece-me que falta pouco.
Um abraço de solidariedade. João
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