quinta-feira, 20 de maio de 2010

Uma supernova diferente e rica em cálcio



Equipa internacional registou uma explosão estelar que nunca antes tinha sido observada e pode envolver duas estrelas
O material lançado pela explosão parece menos substancial do que deveria ser, a sua química não bate certo com a observada noutros fenómenos do mesmo tipo e até a sua localização, distante de quaisquer "ninhos" de estrelas, foi uma surpresa. Feitas as contas, a equipa de astrónomos que observou o fenómeno, em 2005, não teve dúvidas: "Este é um novo tipo de surpernova [explosão de uma estrela]", segundo um dos coordenadores da equipa, Hagai Perets, do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics. O artigo é publicado hoje na revista Nature.
Conheciam-se até agora dois tipos de supernovas. Uma relacionada com a explosão de estrelas jovens gigantes que colapsam sob o seu próprio peso. A outra diz respeito ao fim de estrelas já gastas, as anãs brancas, que explodem no fim da vida, como acontecerá um dia com o Sol. Neste tipo de supernova, os materiais ejectados são sobretudo carbono e oxigénio. Ao dispersarem estes materiais pelo espaço interestelar, as supernovas enriquecem o universo onde outras estrelas se formarão.
Agora a equipa de Hagai Perets e Avishay Gal-Yam, do Instituto Wiezmann, em Israel, anuncia um terceiro tipo de supernova, com níveis anormalmente altos de cálcio e titânio, elementos que resultam de reacção nuclear envolvendo hélio, em vez de carbono e oxigénio. "Nunca tínhamos visto um espectro como este", adiantou Paolo Mazzali, outro dos autores.
Esta supernova, que os cientistas baptizaram como SN2005E, foi observada em Janeiro de 2005 na galáxia NGC 1032, a 110 anos--luz da Terra e, de acordo com Avishay Gal-Yam, tornou-se claro para equipa "que a composição química particular desta explosão detinha uma importante chave para sua compreensão".
De onde vinha aquele hélio? As simulações feitas pela equipa apontam para que "esteja envolvido um par de anãs brancas, em que uma rouba hélio à outra, e quando o nível deste elemento aumenta para lá de um certo ponto na 'ladra', ocorre a explosão", explica o investigador israelita, notando que "provavelmente a estrela dadora morre durante o processo, embora não se saiba exactamente o que acontece com a outra".
Mais de metade do material ejectado por aquela supernova era cálcio. De acordo com os investigadores, uma única explosão deste tipo em cada século seria suficiente para produzir o cálcio detectado em galáxias como a Via Láctea e presentes nos organismos vivos da Terra.

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