Mário Cláudio (www.expresso.pt)
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A enxurrada de trash que invade as nossas livrarias, cada vez menos situadas em plena rua, e cada vez mais nos centros comerciais, recomenda alguma estratégia de defesa. O recurso aos alfarrabistas que teimam em sobreviver, não tão empolgados pela mania da efemeridade, constitui nessa lógica expediente de que lançar mão. Procure-se aí pois a dignidade das marcas do nosso percurso como espécie, oferta quase por completo ausente das grandes superfícies, e até mesmo a excelência de quanto o big-brother dos variados quadrantes registe pela sua singularidade criativa, e pelo concomitante risco de se desencaminhar nas prateleiras.
Quem tiver rumado a Hay-on-Wye no País de Gales saberá bem que energia mobiliza todos aqueles que afluem a essa simples aldeola, considerada a capital das second-hand bookshops, e que aí buscam a solução temporária, mas nem por isso menos salvífica, para os seus objectivos de vida. Efectua-se com antecedência a reserva nos hotéis locais, organiza-se o itinerário dos estabelecimentos que abarrotam de velhos livros, e regressa-se a casa como de uma excursão às Caraíbas com o palpite de haver triunfado, ou de haver fracassado, na prossecução de um sonho. E não deixa de ser verdade que o sentido de pertença a um colectivo, o dos que demandam um título ambicionado, ou perdido de vista, em muito concorre para transformar tais empresas numa questão da alma, implicada na mais empenhada das peregrinações.
O sucessivo desaparecimento das livrarias tradicionais, e a estabilidade correspondente dos clássicos alfarrábios, deveria aconselhar aos proprietários destes uma certa alteração de costumes. Referimo-nos sobretudo ao horário do seu funcionamento, o qual insiste em prever o esdrúxulo descanso ao sábado à tarde, exactamente quando a maioria de nós aufere do tempo adequado a uma visita. Pugnar pois pela maior disponibilidade dessas lojas, abertas para os cidadãos que as frequentam com crescente vontade, e já agora por prática idêntica nos museus nacionais e municipais, obstinadamente fechados aos feriados, afigura-se-nos um daqueles imperativos de civilização que asseguram a constância da felicidade que nos resta.
Afinal quem lê, e a que horas, no país onde tão pouco se lê?
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A enxurrada de trash que invade as nossas livrarias, cada vez menos situadas em plena rua, e cada vez mais nos centros comerciais, recomenda alguma estratégia de defesa. O recurso aos alfarrabistas que teimam em sobreviver, não tão empolgados pela mania da efemeridade, constitui nessa lógica expediente de que lançar mão. Procure-se aí pois a dignidade das marcas do nosso percurso como espécie, oferta quase por completo ausente das grandes superfícies, e até mesmo a excelência de quanto o big-brother dos variados quadrantes registe pela sua singularidade criativa, e pelo concomitante risco de se desencaminhar nas prateleiras.
Quem tiver rumado a Hay-on-Wye no País de Gales saberá bem que energia mobiliza todos aqueles que afluem a essa simples aldeola, considerada a capital das second-hand bookshops, e que aí buscam a solução temporária, mas nem por isso menos salvífica, para os seus objectivos de vida. Efectua-se com antecedência a reserva nos hotéis locais, organiza-se o itinerário dos estabelecimentos que abarrotam de velhos livros, e regressa-se a casa como de uma excursão às Caraíbas com o palpite de haver triunfado, ou de haver fracassado, na prossecução de um sonho. E não deixa de ser verdade que o sentido de pertença a um colectivo, o dos que demandam um título ambicionado, ou perdido de vista, em muito concorre para transformar tais empresas numa questão da alma, implicada na mais empenhada das peregrinações.
O sucessivo desaparecimento das livrarias tradicionais, e a estabilidade correspondente dos clássicos alfarrábios, deveria aconselhar aos proprietários destes uma certa alteração de costumes. Referimo-nos sobretudo ao horário do seu funcionamento, o qual insiste em prever o esdrúxulo descanso ao sábado à tarde, exactamente quando a maioria de nós aufere do tempo adequado a uma visita. Pugnar pois pela maior disponibilidade dessas lojas, abertas para os cidadãos que as frequentam com crescente vontade, e já agora por prática idêntica nos museus nacionais e municipais, obstinadamente fechados aos feriados, afigura-se-nos um daqueles imperativos de civilização que asseguram a constância da felicidade que nos resta.
Afinal quem lê, e a que horas, no país onde tão pouco se lê?
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